domingo, 9 de abril de 2017

BULLYING & SUICIDIO

Acabei de ver, por completo, a série "13 Reasons Why", produzida pela Netflix. Se você ainda não viu a série, mas pretende ver, recomendo que pare a leitura aqui e agora. Porque falarei sobre coisas da série que contém spoillers e você ficará chateado(a) comigo.

A série conta a estória de uma garota de 18 anos que cometeu suicídio. Ela deixa gravada diversas fitas, contando, em 13 áudios, as razões pelas quais ela cometeu tal ato. Ela culpa pessoas que a magoaram e a fizeram sofrer. A série é muito, muito pesada, emocionalmente falando. Muito reflexiva.

Eu já tive 17 anos. Eu tive uma infância difícil e uma adolescência bem ruim. Não fui chamada de "vadia", "vagabunda" ou "fácil". Mas fui chamada de "tampa de poço", "estrume", "baleia" e de um monte de outras coisas ruins. Fui a última a ser escolhida nas aulas de educação física desde sempre. 

Sempre fui uma garota geniosa. E sempre usei G. Não, eu não era gorda. Eu tinha um sobrepeso. Mas isso não impedia meus coleguinhas de escola de me chamarem de gorda ou nomes parecidos. Isso não impedia meus familiares de me dizerem que eu tinha "um rosto tão bonito" e que por isso eu deveria emagrecer.

Isso não impediu que eu começasse a tomar anfetamina, aos 13 anos, para emagrecer. Gente, naquela época, eu usava 42. Isso seria, hoje, uns 44, no máximo. Fiquei magra. Passei a usar "P". Fui seguida até em casa por 02 vezes. E foi no lugar em que eu mais me sentia segura que eu sofri um abuso sexual. Por parte de uma pessoa que eu confiava e por quem eu sentia um carinho enorme. Não, não foi estupro. MAS EU TINHA 13 ANOS!!!

Tem idéia do que isso faz com a cabeça de uma adolescente? Ainda mais quando ela toma anfetamina? Voltei pro Rio com 08 kg a mais!!! Sim!! Eu tomava anfetamina e engordei!!! 08 Kg em 15 dias... Maluco isso? Não! Passei a descontar todos os meus sentimentos em comida... Isso foi em Julho de 1994.

Em 27 de Setembro daquele mesmo ano, eu tentei suicídio. Eu não queria morrer. Mas eu não aguentava mais... Os coleguinhas da escola que me zoavam, o garoto que eu gostava e que me xingava, a culpa pelo o que aconteceu em Julho (porque, na minha cabeça, eu era culpada pelo o que aconteceu).... Mas eu não queria morrer!!! Tanto que liguei pra uma amiga, uma das únicas que eu tinha... Ela ligou pro pastor da escola, que ligou pro meu pai e, assim, eu não morri.

De acordo com o médico da emergência, se meu pai tivesse chegado 20 minutos depois, eu não estaria escrevendo isso pra vocês agora. Eu sobrevivi. Mas as consequências disto tudo que vivi me marcaram para sempre... Foram anos e anos aprisionada...

Apesar de ter ido da diversos psiquiatras e psicólogos, eu nunca contei pra ninguém o que havia acontecido e o que acontecia na escola. Eu sempre me culpei. Eu era gorda e isso dava aos outros o Direito de me magoarem, certo? Afinal, eu que era o problema da humanidade... Tanto que, quando mudei este único fato, coisas ruins também aconteceram... Então, eu era o problema... A culpa era minha.

Eu consegui me ver no lugar da Hannah. O que diferenciava a minha vida da dela é que eu não tive coragem de cortar os pulsos. Eu usei remédios. Não tive e nem nunca teria coragem de me cortar. E quando isso fracassou, não tive coragem de ir pra drogas pesadas ou álcool. Parti pra comida. Porque isso só afetaria a mim... Ou não?!

Muitos pensam que o suicida é egoísta. Pensa apenas na própria dor. Mas ninguém nunca parou pra calçar os sapatos do outro e sequer tentar sentir as dores que o outro sente. O suicida não consegue enxergar uma porta de saída... Ele não vê qualquer saída pra acabar com sua dor.

Bullying pode matar sim!! E não é por fraqueza de caráter ou fraqueza pessoal. É porque dói. Dói muito. E nem sempre a pessoa consegue enxergar quem é realmente o errado nesta história. E passa a jogar pra si o peso da culpa. E como esta culpa é pesada!!!

Eu levei 35 anos pra quebrar todas as amarras. Levei 35 anos para fazer as pazes comigo mesma. Levei 35 anos para aceitar que a culpa não era minha e que eu não sou esta pessoa que as pessoas "pregavam" em mim.

Resgatei a menina, a adolescente e a mulher que fui. Aprendi a amá-las e aceitá-las. Aprendi a perdoar meus erros, aceitar meus defeitos e amar a pessoa que eu sou: por dentro, por fora, de qualquer lado. Hoje eu não permito que ninguém me rotule. 

É preciso que entendamos que cada pessoa é um ser humano. Com defeitos e qualidades. Mas que não podemos, que não temos o Direito, de caçoar de ninguém por qualquer motivo que seja. Porque todos nós temos nossos defeitos pessoais e de caráter. Somos humanos. Seres imperfeitos.

Não permita que ninguém coloque rótulos em você! Porque o seu Criador, o único que poderia fazer isso, não coloca rótulos em você. E muito embora muitos queiram lhe chamar por adjetivos pejorativos ou defeitos, o Senhor e eu queremos lhe chamar pelo seu nome. Não tenha dúvidas disso!!!!

Eu já estive lá. No fim do túnel. No fundo do poço. No quarto escuro, sem qualquer luz pra clarear o lugar. Mas hoje, eu brilho. E cada dia brilho mais. E eu posso te dizer, do fundo do meu coração: há uma saída, há um socorro. Por mais perdido que você esteja, há uma solução e ela não é a morte.

Alguns, por conta da dor, acabam ferindo outros. Entram em locais cheios e matam pessoas que sequer conhecem. Cometem loucuras. Matam pessoas que amam, matam colegas de escola ou de trabalho. Matar e morrer. Porque a grande maioria comete suicídio ao final. De um jeito ou de outro, é a morte a consequência final da dor do bullying que estas pessoas sofreram. Elas queriam morrer....

Isso pode mudar. Em mim, em você e nos nossos filhos. Devemos criar filhos que conheçam bem as palavras amor, misericórdia, perdão. Filhos que respeitem as diferenças e entendam que cada pessoa é de uma forma e todos devem ser aceitos e respeitados. Você sempre pode escolher e ensinar AMOR.

Por isso, eu termino hoje este texto perguntando: O que você semeia? Lembrando sempre que você pode semear o que quiser, sabendo, é claro, que colherá aquilo que plantar.... 

O QUE VOCÊ SEMEIA HOJE?!


Boa semana!