quarta-feira, 1 de março de 2017

A DEPRESSÃO & EU... DEPOIMENTO PESSOAL

Boa Noite, queridos.

Semana passada, pouco antes do Carnaval, eu soube que uma pessoa querida estava com depressão profunda. Eu a conhecia há muitos anos. Desde a minha adolescência, para ser mais precisa. Conheci seus filhos, sua família. Frequentava sua casa... Eu desconfiei de que ela estava doente em Dezembro, ao ver uma foto dela no Facebook da filha. Mas não me envolvi porque achei que ela preferia se manter distante...

Bom, na Quinta-feira retrasada, a filha dela veio conversar comigo no Messenger e me contou que ela estava em depressão profunda. Disse que ela estava assim porque não conseguia trabalho e que ela estava pesando apenas 34 Kg. Gente, pensem comigo! Eu conheci esta mulher forte, rechonchuda, batalhadora! Agora, estava debilitada, pesando 34 Kg.... Conversei com a filha dela e falei para que cuidasse bem da mãe porque depressão mata... E, infelizmente, matou esta pessoa querida. Ela faleceu 02 dias depois desta minha conversa com a filha dela...

Eu fiquei desolada... Não só porque eu a conhecia e sabia da sua História... Mas porque eu sei como é viver em depressão. Ela não se matou. Não foi suicídio. A doença a matou... Ela estava fisicamente muito debilitada e não aguentou mais. O corpo parou. Porque a alma parou. Porque o coração parou.

Quem nunca teve depressão não vai saber NUNCA o que é esta doença. Esta doença mata POR DENTRO. Acho que a depressão é o câncer da alma porque, uma vez que entra em metástase, é muito, muito difícil a cura - não é impossível. Mas a luta, meus queridos, é árdua. E só quem já passou por ela sabe...

Não adianta vir com papinho de: "Ah, deixa de ser corpo mole. Levanta desta cama", "Ah, depressão é doença de rico, pobre não tem tem esse luxo", "Se você fizer uma esforço, você consegue", "Você que não quer sair desta cama", "Isso é falta de força de vontade"... Isso foi um pouco, quase nada do que escutei.

Tive depressão a 1ª vez quando ainda era solteira e estava na faculdade. Entrei em crise total, Gente! Misturei Síndrome do Pânico com depressão. Não conseguia ir às aulas na Faculdade. Chegava para a aula, abria a porta, via aquele monte de alunos e saía chorando pro banheiro. De lá, era certo matar aula em um canto escuro, comendo e onde ninguém pudesse me ver. Perdi períodos da Faculdade. Meus pais descobriram, me ajudaram e eu consegui superar. Minha mãe teve que ir a algumas aulas comigo nesta época. Mas superei!

Continuei em tratamento por alguns anos, com a mesma medicação. Até que a Juju nasceu prematura. E aí, misturou depressão pós parto com depressão profunda. Julia ficou 54 dias na UTI Neo. Foram 54 dias de hospital. Não quis conversar com ninguém, ver ninguém. Não queria que ninguém sentisse pena de mim, sabe? Foram dias de muita luta e muitas, muitas lágrimas.

Quando ela saiu do hospital, eu achei que me recuperaria sozinha e com os remédios. Meu médico, o que eu frequentava naquela época, não exigia que eu fosse a uma consulta para liberar as receitas de medicação. Eu pegava com a secretária dele - que era quem preenchia os receituários, inclusive. Portanto, não havia qualquer controle, por parte dele, sobre a minha medicação.

Quando Juju fez 01 ano, nos mudamos para Irajá. E aí, a coisa desandou de vez! Passei a não ter controle sobre a medicação e a depressão se tornou cada vez mais profunda. A medicação me controlava. Sabe dependente químico, neurótico pela droga? Era eu com meus remédios para depressão. Era remédio pra dormir, remédio pra controlar humor, remédio pra acordar.... E a vida foi passando...

As pessoas que conviviam comigo naquela época dizem que eu não tinha mais expressão facial. Era o mesmo rosto para tristeza, alegria, raiva. Lembro, como se fosse hoje, o meu pai falando que estava com saudades da minha gargalhada. Que havia anos que ele não me via gargalhar. E era verdade. Ele falava que eu precisava de ajuda e eu negava - dizia que estava bem, que a medicação estava ótima!

Gente, eu me auto-medicava! O médico mandava eu tomar 04 comprimidos, no máximo. Eu tomava 10 e, no meio da noite, se acordava, tomava mais 10!!! Olha o nível de loucura, de medo de não dormir, de medo de ficar acordada!!! Ninguém sabe o que se passava dentro de mim.... Ninguém sabe os anseios e os receios que eu vivi... A dor que eu carregava em meu peito.... Eu não queria aquilo pra minha vida, mas eu não conseguia sair!!! Era muito, mas muito mais forte que eu!!!

Eu conversava com meu marido... Ele me ama tanto! Ficou ao meu lado todos estes anos, me ajudando, me apoiando, tentando me fazer sair de um buraco em que eu me enfiava cada vez mais!!! Minha família tentava ajudar, mas não sabia como!

Eu fazia as coisas no piloto automático. Parei de fazer tudo que eu amava: cozinhar, ler, ir ao cinema, escrever.... Era como se nada disso pudesse fazer parte do meu mundo.... Um mundo cinza, quase preto....

Eu odiava sair de casa... Passei a não querer ir para a rua... Não queria ir a aniversários, shoppings ou qualquer lugar que tivesse pessoas... Não queria que ninguém me visse daquele jeito... Porque eu não era daquele jeito... Eu sentia saudades da mulher alegre e cheia de vida que eu era, mas eu não conseguia resgatá-la...

Em 2013, com a morte de Painho, e outros acontecimentos na minha vida, muita coisa mudou... Um período de grande dificuldade e amargura veio.... E, por 12 dias, eu fiquei sem qualquer medicação... Foram 12 dias de reflexão... 12 dias que mudaram a minha vida. 12 dias para que a velha Bianca pudesse voltar e tomar as rédeas da minha vida. Foram os 12 dias mais difíceis da minha vida. Mas foram 12 dias de libertação.

Consegui mudar de médico. Mudei a medicação. Com este novo médico, eu tinha que ir às consultas para conseguir receita. Mas, naquele momento, isso não era problema. Eu estava dominando a depressão e não mais ela me dominava. De 10 tipos de medicação diferentes, eu passei a tomar 03. E depois diminuímos para 02.

Quando engravidei do João, parei totalmente com a medicação. E não, não parei sozinha, porque eu estava me dando alta. Foi meu médico que cortou a medicação e me acompanhou até metade da gravidez. Ele me disse pra voltar quando o João nascesse. E foi o que eu fiz. Depois de 03 meses, ele me deu alta.

Ninguém nunca vai saber como foi o deserto da minha vida durante os anos de depressão. Ninguém vai saber a dor que estava dentro de mim durante aquele período escuro. Ninguém vai conseguir entender todos os pensamentos que circulavam em minha mente insana daqueles anos.

Me culpei por muito tempo pelo tempo que perdi e por pessoas que feri emocionalmente ao longo daquele tempo. Mas não estava em minhas mãos o domínio do meu corpo. Nunca, em momento algum, feri fisicamente alguém - nem tentei suicídio (embora tenha pensado na hipótese). Mas, tenho plena convicção de que magoei pessoas que amo durante minha caminhada pelo meu deserto pessoal.

Mas aprendi a me perdoar. Porque eu estava doente. O câncer da alma me alcançou e me derrubou... E eu estava perdendo a batalha... Fico feliz em poder dizer que não perdi a guerra. Mas sei que muitas pessoas perdem.... Depressão MATA! E mata por dentro....

Não pense que uma pessoa em depressão não tem força de vontade, não quer sair daquele estado ou mesmo gosta da "piedade" dos outros e quer viver assim, esperando que todos lhe cerquem. Não é esta a vontade de uma pessoa depressiva. Ela quer voltar a ser livre, pode ter certeza. Mas ela não consegue. E, desta forma, você não ajuda!!!

Li um livro que fala sobre um daqueles ataques de adolescentes nas escolas dos EUA. No 1º deles, em Columbine, em 1999, um dos atiradores foi considerado maníaco depressivo. A depressão o levou àquela situação. Ele queria morrer, só não tinha coragem de se matar. Sua depressão era tão grande, que ele se uniu a um psicopata para ter coragem de se matar. Ele tinha DEPRESSÃO. Ele escrevia, pensava, imaginava, sonhava com sua morte!!! E, ainda assim, conseguiu viver um bom tempo, disfarçando toda a sua dor interna.

Repito: DEPRESSÃO MATA! Como câncer que se espalha, a depressão se esparrama internamente.... Pense nisso antes de sair acusando pessoas depressivas de não quererem, não almejarem a cura!! Essa é a maior vontade delas!!! Mas, muitas vezes, senão na grande maioria das vezes, ela não enxerga a saída.

O que eu posso dizer a você, que convive com uma pessoa em depressão: Tenha calma, paciência e tente compreender um pouco mais da doença. Não pense que a pessoa não tem força de vontade. Ela tem um desejo de libertação enorme, mas ela não encontra esta vontade - está perdida dentro dela.... Ela se sente presa, amarrada, sem ter para onde ir.... Apoie, dê amor e carinho.... Chore junto, ore junto.... E, se precisar conversar, conte comigo! Estou aqui e, se eu consegui vencer, você também pode!!!

Estamos juntos na luta contra a depressão! Porque, juntos, sempre seremos mais fortes!!!!

"Ame ao seu próximo, como se fosse você, como se a dor que ele sente, fosse a que sente você
Ame ao seu próximo, como se fosse você, como se a dor que ele sente, doesse mais em você..."


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